Apesar de diversos estudos comprovarem que o melhoramento genético de bovinos é ferramenta propulsora de produtividade nas fazendas brasileiras, esse fato está ainda pouco “firmado” no conceito dos criadores em suas ações dentro da “porteira” de suas propriedades.

 

O nosso geneticista, Prof. Dr. José Bento Ferraz, mencionou em uma de suas palestras um trabalho muito interessante do Prof. Dr. Pietro Baruselli, apresentado em 2014. Nesse trabalho, os professores mostram que, em 2011, existiam quase 75 milhões de vacas no Brasil e cerca de 3 milhões de touros trabalhando com elas. Pensando numa taxa de reposição anual de touros de 20%, seriam necessários cerca de 600mil touros todos os anos para abastecer essa vacada.

 

Os professores também mostram que são produzidos anualmente cerca de 17mil touros com CEIP* e mais cerca de 18mil touros superiores registrados PO. São cerca de 35mil touros produzidos anualmente com avaliação genética e bons dados. Nem é preciso ser bom em conta para perceber a distância dos 35mil produzidos para os 600mil necessários, representam apenas 6% do que deveria estar sendo reposto todos os anos.

 

Mas a verdade é que os touros estão sendo efetivamente repostos, só que, infelizmente, estão sendo repostos com os famosos cabeceiras de boiada, também conhecidos como “bois com bola”. A triste realidade é que 94% da reposição de touros são feitas com “touros” que só serviriam para o corte.

 

Sabe por que o mercado de touros geneticamente avaliados não cresce como deveria? Porque os compradores não exigem qualidade! Se os compradores exigissem avaliação genética, mais e mais produtores de touros passariam a avaliar seu gado.

 

Pecuaristas que compram seus touros entre os 94% de animais inferiores citados acima não estão preocupados com seus resultados. Muitos compram touros inferiores por desconhecimento, outros compram porque querem pagar o preço de carne por um touro, pelo responsável por suas gerações futuras de machos e fêmeas na fazenda. Barato que sai caro.

 

 

Nesse caso, a matemática é clara: filho de refugo, refugo será! E que tragédia ver a sua produção pecuária caindo a cada ano. Índices cada vez menores, animais menos produtivos ano após ano. A principal desculpa é “não posso investir porque pecuária não dá lucro”. Ora, uma boa reposição de touros não é um investimento tão pesado assim!

 

Basta pesquisar e negociar para perceber que o valor do touro geneticamente avaliado e com CEIP não é tão superior ao da maioria dos “pontas de boiada”.

 

Dentre os “touros” ponta de boiada, pensei em algumas categorias:

 

– Kamikaze – joga lá e vê o que acontece. Touro para o pecuarista suicida, que escolhe um animal no meio de um confinamento ou na boiada do vizinho. Paga o preço de carne, sem saber nem se o animal é fértil;

 

– Bomba relógio: uma hora ela vai explodir e vai levar seus lucros com ela. Esses são filhos e netos de touros avaliados. O produtor investe um ano em touros superiores/avaliados e, a partir daí, começa a tirar seus próprios touros. Ele se esquece que suas vacas tem valor genético desconhecido e que ele não tem as ferramentas e volume para avaliar e produzir seus próprios touros;

 

– Tragédia anunciada: esse é aquele touro que foi comprado no meio do descarte de touros de algum produtor que avalia. Todos os anos, programas de melhoramento são procurados por criadores dispostos a comprar “aquele touro que não serve para vocês”. Se o touro não serviu para o vendedor de touros, não serve para ninguém. São inferiores e sua produção vai deixar isso claro.

 

Investimento em touro é baixo e o resultado é gratificante. Ver seu rebanho melhorar a cada

ano, com índices produtivos cada vez melhores, alta fertilidade, alto peso de desmama, são resultados que incentivam o pecuarista a investir em pastos cada vez melhores, estratégias de suplementação e novas tecnologias.

 

*CEIP é o Certificado Especial de Identificação e Produção, emitido pelo Ministério da Agricultura para animais verdadeiramente melhoradores.

Gabriela Giacomini é zootecnista e Gerente de Operações do Programa Montana.

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